O algodão naturalmente colorido, especialmente quando produzido com tecnologia “orgânica”, é matéria-prima ambientalmente muito amigável e, certamente, o produto mais sustentável atualmente disponível no Mundo. Produtos agrícolas “orgânicos” motivam dois tipos de consumidores: pessoas que tem sensibilidades químicas ou alergias e precisam desses produtos por razões de saúde, e outro grupo que é ambientalmente consciente e compra os “orgânicos” para ajudar a proteger a Terra.
No Brasil, urge informar à população sobre equívocos de comunicação – que tem origem na própria Embrapa – em que formadores de opinião na mídia em geral foram induzidos a divulgar o algodão naturalmente colorido como uma exclusiva conquista tecnológica brasileira (sic)! Esqueceu-se das pesquisas pioneiras realizadas na extinta União Soviética e nos Estados Unidos da América, em pleno transcurso da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), interrompidas ao final daquele conflito armado. Passados 35 anos, ocorreu daquelas buscas tecnológicas serem retomadas nos Estados Unidos da América, quando se cruzou linhagens genéticas obtidas nas experiências anteriores com variedades selvagens oriundas da América Latina. Este feito é da Drª Sally Fox, que desenvolveu suas pesquisas até obter sucesso por toda a década de 1980.
Um fato curioso foi que, após a Drª Sally Fox patentear a marca “FoxFibre” para o seu novo algodão em 1989, no ano seguinte já era fundada uma empresa para aproveitamento comercial exclusivo de algodão naturalmente colorido nas províncias chinesas de Xinjiang e Gansu: o China Natural Colour Cotton Group – CWC. Esse empreendimento chinês comemorou seus 26 anos de sucesso comercial, e, inclusive, desde 2010 seus produtos são vendidos em São Paulo-SP. A CWC é um investimento de mais de US$ 100 milhões para pesquisa, desenvolvimento e inovação com algodão colorido, o que é mostrado no vídeo “A história do algodão de cor“[1].
No Brasil tudo começou em 1990 com uma visita de industriais têxteis japoneses à Embrapa, em Campina Grande-PB. Eles induziram os cientistas locais ao melhoramento genético convencional do algodão naturalmente colorido quando se dispuseram a adquirir a produção têxtil que se fizesse a partir das variedades selvagens existentes no banco de germoplasma de algodão, de plumas naturalmente coloridas marrom e/ou bege.
Nove anos depois foi obtida a primeira cultivar brasileira, a BRS 200 Marrom, fruto de cruzamentos de cultivar norte-americana (“Texas”) com outras resultantes de cruzamentos com o algodão “mocó”, de fibras longa e/ou extra-longa. Assim, desde o ano 2000 a Embrapa vem lançando no mercado outras cultivares naturalmente coloridas, as quais não são mais baseadas no “mocó”, mas herbáceas. A cultivar BRS Verde, de fibra verde claro, por exemplo, é resultante de variedades herbáceas com a cultivar norte-americana “Arkansas Green”.
Atualmente são 19 (dezenove) países onde se pesquisa (ciência), se desenvolve (tecnologia) e se inova (criativa-inventividade) com o algodão naturalmente colorido:
Comparar na atualidade o algodão naturalmente colorido com o tradicional (de pluma branca); ou mesmo cotejar o primeiro com as fibras sintéticas e/ou artificiais, no Brasil como no Mundo, não faz sentido porque as diferenças entre as quantidades produzidas por essas tecnologias ainda são astronômicas! Basta considerar os seguintes números do Brasil: no caso do algodão herbáceo tradicional o valor bruto da produção – VBP, até abril deste ano corrente, já tinha alcançado a cifra de R$ 20.876.890.463,00, correspondente à produção de 1.289.200 toneladas de pluma. Ao lado dessa produção, e em todo o Brasil, foi cultivado o algodão colorido “orgânico” em 120 (cento e vinte) hectares, resultando um volume de 51 (cinquenta e uma) toneladas de pluma naturalmente colorida, o que foi remunerado pelo valor total de R$ 652.808,00. Segundo o pesquisador indiano Keshav R. Kranthi são inexistentes dados que permitam estimar a demanda de pluma de algodão colorido para todo o Mundo, de forma que a permanência dos cultivos mostrados na tabela acima podem indicar que o consumo atual ainda é incipiente na Europa, na América do Norte e no Japão; e indica também que o maior consumo do momento se dá na China, pelo grande acerto de marketing da CWC ao priorizar, desde sua fundação, roupas para bebês. Com as melhorias no padrão de vida da população nos últimos anos, não deve faltar criança chinesa para utilizar-se de agasalhos e roupas que, de tão confortáveis, são consideradas como uma segunda pele [2].
É importante verificar aqui que o preço de um quilograma de pluma naturalmente colorida, certificada como “orgânica”, é de R$ 12,80. Isso é o que as empresas Natural Cotton Color e Santa Luzia – Redes e Decoração resolveram pagar atualmente no estado da Paraíba, acrescentando-se o índice inflacionário anual a esse preço a cada nova safra contratualizada.
Enquanto isso ocorre, no mercado da pluma branca tradicional o valor de um quilograma é de R$ 6,33 (cotação da Fundação Bahia e AIBA, em 29/05/2017). No âmbito de um comitê gestor estadual aquelas duas microempresas assumiram uma estratégia de trabalho com foco em algodão sustentável e melhoria das condições de trabalho; numa colaboração com a indústria com o objetivo de aumentar a oferta e a procura de algodão colorido “orgânico” e melhorar a prosperidade dos cotonicultores familiares. Elas querem explorar os desafios que se colocam à cadeia de valor do têxtil e vestuário, como a agricultura sustentável e “orgânica”, a utilização de água e uma prevenção à descarga de químicos perigosos. Sentiram a necessidade de encontrar alternativas sustentáveis e focam soluções como o apoio aos cotonicultores familiares, em especial aqueles que são assentados rurais.
Isto feito, apareceu um ‘encantamento’ mercadológico sobre o algodão naturalmente colorido, o qual leva à ideia geral da Economia Circular, evitando-se os contaminantes químico-sintéticos e disponibilizando materiais na cadeia de valor do algodão naturalmente colorido que podem ser reaproveitados o tempo todo. Talvez seja por isso mesmo que na China já se fez a previsão de que a produção de algodão colorido vai acontecer em muitos lugares da Terra nas próximas três décadas (ou seja, até 2036) e vai alcançar em torno de 30% (trinta por cento) do total de algodão do Mundo. Ora, então, assim, já se pode ‘brincar’ melhor com os números, pois que, se isso pudesse ser calculado em cima dos números atuais da cadeia produtiva mundial do algodão, daria um volume de 6.324.900 toneladas de pluma naturalmente colorido ao valor de R$ 40.036.617.000,00, mesmo que haja uma deflação hoje de 100% nos preços praticados no futuro!
[1] Disponível em: <http://www.cwcncc.com/quality.php?lang=en> Acesso em 28/05/2017, às 16h27.
[2] Uma excelente definição para a tecnologia algodão colorido, feita pela jornalista norte-americana Karen Brown! (The Etsy Blog disponível em:<https://blog.etsy.com/en/2013/sally-fox-and-the-world-of-naturally-colored-fiber/> Acesso em 28/05/2017, às 16h32).